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A subjetividade de Natasha Lyonne nos figurinos de Boneca Russa


Antes de começar a contar sobre essa série já avisando que vai conter spoilers queria mergulhar nas inspirações que serviram como combustível para sua criação.


Você já viu uma boneca russa?


A boneca russa, conhecida como Matrioska, nome do último episódio da segunda temporada, é diminutivo do nome matrena, que significa matrone ou Maria e representa simbolicamente a figura materna, a fertilidade e a força da mulher. As matrioskas tradicionais eram compostas por 3 bonecas ocas, femininas, umas dentro das outras, representando avó, mãe e filha e, uma última, um bebê compacto.



Na série, a ideia da boneca é usada como uma metáfora para os dias vividos por Nadia, interpretada por Natasha Lyonne, que também co-criou a série, além de escrever e dirigir alguns episódios maravilhosa demais, né?


Na segunda temporada, essa metáfora se expande e o metrô de Nova Iorque funciona praticamente como um ponto de chegadas e partidas para as viagens no tempo de Nadia e seu parceiro de loop Alan (Charlie Barnett). A ideia do metrô pra mim foi muito genial porque, ao utilizar um meio de transporte comum, você gera uma identificação e se sente viajando junto com eles. O ir e vir desse transporte faz parte do seu dia a dia e a próxima vez que pegar um metrô vai lembrar da cena.


Lembrou do episódio que mencionei? *MIND-BLOWING*


Para além dos dias vividos em looping por Nadia, essa temporada mostra como nossas mães, avós, tias vivem dentro de nós. Claro, não de forma literal como foi mostrado - o que eu também achei genial para representar a ideia da boneca mas como através das atitudes tomadas por essas pessoas, fomos moldados. Isso também me alertou sobre empatia e sobre como se colocar no lugar do outro.


A vida de Natasha Lyonne

Depois de terminar a série senti que alguns pontos poderiam ser ligados entre a série e a vida da atriz. Não à toa, e vocês vão entender junto comigo, a série tem várias referências que se aproximam muito de alguns momentos ou características de Lyonne, vamos lá:


1. Mãe

Ivette Buchinger, mãe de Lyonne, nasceu na França, em Paris, e é filha de sobreviventes do Holocausto. A família migrou para os EUA e tinha interesse em artes.


2. Família

Sua família era de origem judaica e, os pais de Lyonne, tinham crenças judaicas ortodoxas.


3. Infância

Lyonne frequentou a famosa escola judaica privada 'The Ramaz School' na cidade de Nova York. Como era uma boa aluna teve bolsa em toda sua escolaridade, além disso, teve aulas de Talmude, uma coletânea de livros sagrados dos judeus, e aprendeu a língua aramaica.


4. Drogas

Com a separação dos pais quando ainda era nova e os distúrbios em sua família, Lyonne começou a usar drogas bem cedo e se tornou viciada. Foi expulsa da escola por estar vendendo maconha.


5. Formação

Lyonne não conseguiu se formar no colegial porque abandonou a escola antes do último ano para assistir a um programa de filmes na "Escola de Artes Tisch da NYU”. Ela já vivia independente aos 16 anos.


6. Carreira

Apesar de ter feito algumas propagandas quando era pequena, sua carreira não alavancou. Foi aos 16 anos que Lyonne atuou em "Todos dizem eu te amo" de Woody Allen, e foi aplaudida de pé pelos críticos.


Confere esse trechinho aqui:


Após isso, Lyonne atuou em séries e filmes como "Will and Grace", "American Pie", "Detroit Rock City", "Scary Movie 2” entre outros.


Foi aí que Lyonne estudou cinema e filosofia na Universidade de Nova York e se interessou pelo teatro, atuando em peças como "Mulheres atrás das grades", "Dois mil anos" e "Amor, perda e o que eu usava".


Esses pontos me fazem reconhecer que a série trata imensamente da vida de Natasha Lyonne. Você não acha?


Figurinos de Nadia


Como vocês sabem, escrevo aqui no Cinema e Café com Leite sobre os figurinos dos filmes e, falar sobre esse ponto em Boneca Russa pode parecer bobo, já que ela utiliza poucas roupas, mas em uma entrevista para a Elle, a figurinista Jennifer Rogien conta as referências e motivações para a construção do figurino da série.


Nesse trecho, em especial, podemos ver como a atriz quis dar sua subjetividade à personagem:


Com seu sutiã Lonely preto e um blazer trespassado, o visual jeans é finalizado com as botas de cano curto de Nadia Rodarte para Cole Haan, que vieram direto do guarda-roupa pessoal de Lyonne. Rogien diz que Lyonne disse a ela que nenhuma outra bota serviria, alegadamente dizendo: “'Estas são as botas. Eu sei que posso andar com eles 14 horas por dia.'” Infelizmente, Rogien só conseguiu encontrar um par solitário no eBay que era meio tamanho maior que o de Lyonne, então a atriz usava principalmente os que ela trouxe de casa.

O ouro inclui histórias traumáticas para a personagem, como as moedas Krugerrand que representam a infelicidade de certas escolhas da família. Mais tarde, essas moedas se tornam o colar que ela usa.


O visual com tons de vermelho e preto faz relação com a primeira temporada, enquanto busca a história de sua família, Nadia está com uma blusa com corações que remete ao sensível, a emoção dessa aventura.


O sobretudo Avec Les Filles preto da segunda temporada funciona quase como uma armadura, feita sob medida para Lyonne, envolvendo-a como uma proteção para suas viagens no tempo, principalmente para as escadas (traumas rsrs).


No quarto episódio, podemos notar a mudança para um casaco da Theory verde-oliva, propositalmente escolhido pela figurinista para fazer referência aos elementos da Segunda Guerra Mundial que estavam na história.


É importante notar que a figurinista escolheu roupas que pudessem alocar os cigarros, o telefone e as pistas do passado de Nadia, mas claro, todos feitos com cuidado para que não afetasse a roupa como o caso do isqueiro que estava em um chaveiro retrátil.


A série, com altos e baixos, nos revela como sua história é baseada em temas tão cotidianos de aceitação e empatia, enfrentados numa corrida pelo tempo e mergulhados na vida e guarda-roupa da inspiradora Natasha Lyonne.


Deixo aqui, em especial, minha releitura desse figurino nova-iorquino que inspirou meu guarda-roupa e, para a elaboração dele, utilizei referências da primeira temporada.




O casaco que usei era da minha avó e é super especial para mim. Além disso, usei uma bota e calça preta bem no estilo Nadia. E, para entrar no clima da série numa pegada Brasileira, estou segurando o clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.





Te inspirou por aí também? Que tal recriar esse look? Não esqueça de marcar a gente @cinemaecafecomleite e até a próxima <3




Fontes


Like Its Second Season, The Fashion In Russian Doll Is Built To Last. Disponível em <https://www.elle.com/culture/movies-tv/a39838209/russian-doll-season-2-fashion-outfits/>


The Secret Meaning Behind Nadia’s Look in ‘Russian Doll’. Disponível em <https://www.netflix.com/tudum/articles/how-the-russian-doll-costume-designer-created-nadias-signature-look>



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