A partir da década de 1940, o mundo passou a conhecer as novas ondas cinematográficas, tendo início com o Neorrealismo na Itália, depois com a Nouvelle Vague da França, o nosso Cinema Novo brasileiro, e assim por diante. Na China, não foi diferente: ao final da década de 1970, o mundo conhece a Nova Onda de Hong Kong.
Na época, a cidade era uma colônia britânica, algo que muda apenas em 1997. O movimento chinês foi dividido em duas fases, conhecidas como “Primeira Onda” e “Segunda Nova Onda”. Tudo isso começou com diretores que estudaram cinema no exterior e começaram a explorar uma nova forma de realizar filmes no país, desejando fugir do clássico comercial, como é o intuito das novas ondas.
Nascido em Xangai, em 1958, Wong Kar-Wai foi um dos principais nomes da Segunda Onda, que se inicia em meados da década de 1980. O diretor logo se tornou um dos maiores nomes do cinema chinês, conhecido mundialmente por sua obra. Interessado por cinema desde criança, Wong nunca estudou cinema de fato, mas sim aprendeu assistindo filmes e realizando-os na prática, tendo começado a carreira como roteirista. Sua trajetória o levou a tornar-se o primeiro chinês a ganhar o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 1997, com seu filme Felizes Juntos.
A câmera lenta, a paleta de cores minuciosamente definida (como o vermelho marcante em Amor à Flor da Pele, ou os tons esverdeados em Anjos Caídos), narrativas fragmentadas e trilhas sonoras envolventes, são marcas da autoralidade do diretor. Seus filmes abordam o amor e o tempo, levantando a questão da efemeridade das relações, tema muito possível de ser relacionado com o conceito de amor líquido, elaborado por Zygmunt Bauman. O filósofo usa o termo “liquidez” para falar sobre as relações da pós-modernidade, e como elas são frágeis devido ao mundo corrido cheio de transformações, onde tais relações não conseguem acompanhar.
Em entrevista ao MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), o diretor contou que, fugindo do padrão, ele começa a pensar um filme a partir de seus personagens, para então pensar em uma história. Além disso, ele também gosta de saber dos atores e atrizes escolhidos, o que eles fariam em determinada situação, trazendo uma maior verossimilhança e organicidade para dentro dos filmes.¹
"A maioria dos meus filmes trata de pessoas presas a certas rotinas e hábitos que não as fazem felizes. Elas querem mudar, mas precisam de algo para empurrá-las. Eu acho que é principalmente o amor que faz com que elas quebrem suas rotinas e sigam em frente." Wong Kar-Wai²
Confira abaixo alguns filmes para conhecer a obra do diretor.
Amor à Flor da Pele (2000)
Ambientado na década de 1960, a secretária Li-Zhen (Maggie Cheung) e editor de jornal Chow (Tony Leung Chiu Wai) mudam-se para o mesmo local com seus respectivos cônjuges, que vivem viajando para o exterior. Os dois acabam se cruzando sempre e, quando finalmente conversam, desconfiam que ambos estão sendo traídos.
Amores Expressos (1994)
Dividido em duas partes, assistimos as histórias de uma mulher misteriosa, um policial que a persegue, e uma jovem atendente de uma lanchonete em uma estação de trem que se apaixona por outro policial. São duas histórias de amor que falam sobre rejeições e buscas.
Anjos Caídos (1995)
Acompanhamos as vidas de crime de um matador de aluguel que deseja sair da vida que leva, sua parceira que está apaixonada por ele, e paralelamente, um homem mudo que assalta lojas à noite. Os caminhos dos homens criminosos se cruzam em uma noite em Hong Kong.
Felizes Juntos (1997)
O casal Ho Po-Wing e Lai Yiu-Fai vão passar férias na Argentina, mas a relação acaba desmoronando. Ambos acabam tendo que ficar lá por mais tempo e arranjam empregos. Entre impulsividades, discussões e a vida noturna, o casal se reaproxima.
Fontes
¹ Wong Kar Wai on crafting roles for actors | MoMA Film. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=SUTiWRrJyzU>
² Citação de Wong Kar-Wai disponível em <https://www.avclub.com/wong-kar-wai-1798208135>
O Poeta de Hong Kong, Wong Kar-wai. Disponível em <https://www.rosebud.club/post/18052020>
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